segunda-feira, 26 de setembro de 2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Ritos de Servidão

A recente proposta do ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, de envolver as instituições apoiadas pela FCT no acolhimento dos novos estudantes universitários, constitui mais uma etapa na sua luta, louvável e persistente, contra as praxes. Trata-se de não dar tréguas ao achincalhar da ideia de Escola iluminista, organizada em torno dos valores da autonomia individual e da cidadania democrática, perpetrado pelas praxes. Face a estas, o registo corrente de quase todos os diferentes atores da vida académica (docentes, discentes, pais e variadíssimas associações) é o de uma condenação declaratória, mas sem consequências. Como quem rejeita um mau odor, depressa dele se afastando. Parece-me um erro grave, pois as atuais praxes não constituem uma regressão às práticas "académicas" do Antigo Regime, não reproduzem os ritos de casta de uma sociedade estratificada em ordens e estamentos. As praxes de hoje preparam um futuro de "servidão voluntária". Elas estão em linha direta com a degradação do ambiente cultural e psicológico de muitas escolas secundárias, transformadas em lugares ruidosos, onde a "indisciplina" é um nome pobre para designar a lenta erosão das condições de possibilidade para um ensino que não seja uma tóxica caricatura. De Verney a Sérgio, constituiu-se um projeto de Escola como preparação para a Cidade. Para cada um aprender e defender os seus direitos e deveres, pois não existe cidadania sem o respeito pelo espaço de proteção e dignidade que deve existir entre cada ser humano e o seu semelhante. As praxes dobram as almas para um futuro de abuso, prepotência, ódio à inteligência, amálgama violenta de identidades temerosas. Não são um recuo. São uma antecipação dos novos tribalismos para onde, distraidamente, nos estamos a deixar empurrar.
Viriato Soromenho-Marques in Diário de Notícias, 7-9-2016

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Somos livres?

"[...] Os homens enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenas em que eles têm consciência das suas acções e são ignorantes das causas pelas quais são determinados. O que constitui, portanto, a ideia da sua liberdade é que eles não conhecem nenhuma causa das suas acções. Com efeito, quando dizem que as acções humanas dependem da vontade, dizem meras palavras das quais não têm nenhuma ideia."

Baruch de Espinosa, Ética, II, Prop. XXXV, Lisboa, Relógio d'Água, 1992