“Direita
e esquerda: palavras que fora da política se revestem de significados
substancialmente simples: um lado ou outro do corpo, de uma estrada, de um rio.
Ou, nos derivados – e a simplicidade já se reduz -, remetem para a habilidade
[destreza] ou infortúnio [sinistro]; fortuna ou desventura; justo, recto (right) ou residual, posto de parte,
deixado de lado (left).
«Nas
línguas indo-europeias, nas conotações de sinister,
gauche, linkish e maladroit e, por contraste, nas de right e rectitude, droit e droite,
diritto e Recht, os termos que significam “direita” indicam habilidade,
rectidão, o que é correcto do ponto de vista da moral, das leis e do costume e
os termos para “esquerda” o oposto» [Lukes,
1997, 53]
Na linguagem política
tudo se complica ulteriormente: as palavras da política vêm de longe, ainda que
para muitos observadores (e para muitos políticos um pouco incultos) não se
recue para lá de ontem.
Na realidade, as
palavras «esquerda» / «direita» impuseram-se em toda a Europa e depois em todo
o mundo, através da linguagem quer parlamentar, quer do socialismo, sobretudo a
partir de 1870. Nas arenas parlamentares, os monárquicos e os bonapartistas (em
França) sentavam-se à direita, os republicanos (e depois os socialistas) à
esquerda [Laponce 1981], tomando o nome pela sua colocação nos espaço
parlamentar.
[…] Apesar das
declarações de obsolescência, no Ocidente – pense-se, para dar algum exemplo,
na história dos últimos quinze anos em Itália, em Espanha, em alguns países do
leste europeu e até nos Estados Unidos -, o espaço político continua a
polarizar-se (ou a tornar-se mais rígido?) em torno da direita e da esquerda.
Por vezes, as oposições são muito marcadas, baseando-se em conclamadas
valências simbólicas, e se já não se alimentam das complexas construções
ideológicas oitocentistas e não parecem baseadas na colocação dos sujeitos no
espaço produtivo, não deixam de ser eficazes. Os símbolos ainda são poderosos
factores de legitimação da ordem política, com a sua linguagem antiga e natural,
emotiva e visceral, de fácil apreensão.
Em suma, direita e
esquerda serão, pois, categorias da política moderna, mas de qualquer modo
ainda continuam a ter sentido na política pós-moderna
É importante que nos
interroguemos se isto acontece só para fins propagandísticos, para aumentar a
visibilidade, atrair consensos, mobilizar, ou se os significados comunicados se
traduzem em resultados concretos.”
Franco Cazzola, O que resta da esquerda. Mitos e realidades
das esquerdas no governo. Lisboa, Cavalo de Ferro Editores, 2011, pp. 15-16
e 45-46.
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