sexta-feira, 6 de novembro de 2009

PALESTRA


PALESTRA

“A IMAGEM DO FILÓSOFO”

BIBLIOTECA DA ESCOLA
SECUNDÁRIA VITORINO NEMÉSIO
Rua Conselheiro Emídio Navarro 1950-063 LISBOA

2 DE DEZEMBRO – 16 HORAS

Composição da mesa:

- Mestre J. Moreira Tavares, organizador e moderador.
- Mestre António Pinto da Cruz, Presidente da C.A.P.
- Prof. Doutor Eduardo Chitas, Universidade de Lisboa.


Informações e inscrições:
jmoreiratavares@gmail.com



ENTRADA LIVRE.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

MACACOS MIMÉTICOS

Quero presumir que todos quantos lerem estas palavras já terão ouvido a proverbial frase macacos de imitação.

O Darwinismo poderá ter contribuído para tal ideia. De tal modo que, os detractores da referida teoria evolucionista ridicularizaram o seu autor, apresentando-o numa caricatura de macaco.

Contudo, os mais recentes achados arqueológicos de raiz antropológica, começam a pôr em causa essa filiação comum entre o Homem e os Símios.

Perante este quadro, podemos questionar-nos acerca da proverbial frase e perguntar se, afinal, não será o Homem verdadeira e genuinamente, o mais mimético dos seres.

É certo que o mimetismo é um termo usado em Zoologia, justamente para caracterizar o fenómeno de vários animais tomarem a cor e a configuração dos objectos do seu habitat ou mesmo de outras espécies diferentes.

Podemos identificar três tipos de mimetismo: a homocromia mimética (imitação pela cor); o mimetismo protector (animais inferiores tomam aparência de perigosos); mimetismo ofensivo (certas espécies imitam as suas presas).

Mas a pergunta essencial continua por responder: será o Homem, à semelhança dos animais, igualmente mimético? Em caso afirmativo, que importância tem essa característica no comportamento humano?

Deixo à consideração uma citação de Fernando Savater: “Em grande parte, a ductilidade dos humanos para serem socialmente amestrados provém da nossa disposição mimética: todos os macacos imitam, mas nós somos autêntica e essencialmente macacos de imitação”.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OS ÁTOMOS DE DEMÓCRITO

Demócrito de Abdera é o último dos grandes filósofos pré-socráticos. O seu sistema mereceu a admiração dos materialistas dos séculos XIX e XX.

Demócrito defende o logos. Segundo a razão, o real é formado por átomos (elementos simples) e vácuo. Segundo a opinião, o real é formado pela cor, o doce e o amargo.

Desta oposição entre razão e opinião, resulta uma máxima que importa destacar: os sentidos ameaçam a razão.

Numa época em que somos invadidos por mensagens que apelam aos sentidos e em que todos manifestam opinião acerca de tudo, torna-se importante reflectir essa máxima.

O atomismo de Demócrito, na sua necessidade de aperfeiçoamento como no seu princípio, leva-nos a questionar o visível, o óbvio e a opinião baseada nos sentidos.

Se os sentidos ameaçam a razão, e a opinião nos conduz a uma evidência questionável, torna-se importante pensar mais e opinar menos.

Como refere Gaston Bachelard: “A opinião, legitimamente, nunca tem razão. A opinião pensa mal; ela não pensa: traduz necessidades em conhecimentos”.

Portanto, é preferível o erro racional de Demócrito, que admite átomos como elementos simples, à certeza empirista da opinião baseada nos sentidos.

Antes errar pensado, do que acertar opinando.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A UTILIDADE DO VOTO ÚTIL

"Porque não serve para nada, a filosofia não está ainda caduca"
T.W.ADORNO

1. Em tempo de eleições votamos. São inúmeras as solicitações para que se vote, até porque o fantasma da abstenção paira sobre o sistema político-partidário como prisão perpétua sobre a cabeça do condenado. Inclusive, chegámos ao ridículo de se formarem movimentos ao torno do voto nulo ou em branco. E, contudo, a abstenção continua a manter-se em níveis altos e a ser ela própria o leitmotiv dos apelos ao voto.

2. Perante este cenário, e querendo dar uma dimensão de utilidade ao acto de votar, talvez com o pressuposto de motivar cada um a faze-lo, fala-se cada vez com mais insistência na utilidade do voto. Alguns, aproveitando a onda, tentam passar a mensagem do voto útil. Mas talvez seja necessário reflectir, nem que seja um pouco, acerca do que se entende por utilidade, para compreender melhor o que se pretende com o voto útil.

3. Será lícito colocar a utilidade associada ao voto? E assim sendo que razões temos para admitir que o voto é útil? Mais: sendo tão útil como alguns pretendem fazer crer, porque razão há tantos “cidadãos” a não querer essa utilidade? Estas perguntas até poderiam ser mais uma tentativa retórica e sofística de apelo a não votar. Mas os que não querem votar já têm tantas justificações, que a da utilidade lhes passa ao lado.

4. Do ponto de vista da utilidade, o voto seria tão útil como o são as condições biológicas e homeostáticas subjacentes à nossa sobrevivência. Ora ninguém, no seu perfeito e são entendimento, nega a utilidade dessa homeostasia. Contudo, ao contrário do voto útil, essa utilidade primordial coloca-nos ao nível da animalidade. E que eu saiba, os animais não votam. Portanto, teremos de questionar o tipo de utilidade que está subjacente ao voto. Se é que podemos falar de utilidade.

5. Darei um exemplo ao gosto do homem comum e, para evitar ser acusado de falar com palavras caras e filosofias baratas, será compreensível por todos. Quem, professor ou aluno, já não teve a experiência de estar a ensinar/aprender conteúdos inúteis? Não será preciso grande exercício argumentativo para entender que certos conteúdos são considerados inúteis. Mas quando indagamos acerca da utilidade, cada um terá os seus critérios. Numa sessão de pedagogia, um aluno disse claramente que não gostava da escola, preferia dormir e jogar playstation. Não será isso mais útil para ele?

6. Considero um risco utilizar a utilidade aplicada a acções humanas. Além disso, da utilidade cada um terá a sua própria noção, facto que nos remete para atitudes egoístas, opinativas e particulares, incompatíveis com a acção subjacente ao voto. Acresce a isto um outro problema, este mais complexo. Por quê o apelo ao voto útil? Caso queiramos reduzir as eleições ao voto útil, então sigamos o “pragmatismo ideológico” de dois partidos, aparentemente divididos numa ideologia light e facilmente digerível pelo eleitorado.

7. Subjacente ao voto útil, está uma perspectiva dualista e binária, que pretende banir a ideologia e o partidarismo ideologicamente comprometido como coisa do passado, sem sentido, face à falsa “ideologia da utilidade”. Até porque, sendo assim, todos os partidos se consideram úteis, e não haverá qualquer diferenciação.

8. Deixemo-nos, pois, da falsa ideologia da utilidade, que apenas serve para perpetuar dualismos que conduzem cada vez mais à descrença, e apelemos ao voto como dever de todos e cada um: o voto como acto livre e intencional do agente, que escolhe de forma livre e, portanto, responsável. E já agora, ideologicamente comprometido. Mesmo engolindo sapos.

9. O que foi dito do voto aplica-se também ao protesto útil. Falo daqueles demagogos e oportunistas, sempre prontos a apontar o “caminho” e a “solução”, sabendo que nunca serão chamados a responder ou responsabilizar-se pelos seus projectos. Daqueles que gostam de agitar as bandeiras do momento, mas com sabor a fel, para melhor fazer passar a mensagem do “depois não digam que não avisamos”. Alternativa sim, mas com responsabilidade.

domingo, 6 de setembro de 2009

ÉTICA PARA UM ANIMAL POLÍTICO

Os últimos tempos têm sido férteis em casos que nos levam a pensar na relação entre ética e política. Relembremos os mais mediáticos: recandidaturas de políticos em casos que transitaram em julgado, elaboração de listas com candidatos envolvidos em casos suspeitos, limitação do número de mandatos. Este último caso não deixa de ser paradigmático. Sabemos que há diversos “dinossáurios” no poder.

Mas a questão não é de tempo, mas sim de poder. E, como diz a máxima: o poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente. A questão é também ética. Mas o que é a ética? Não vou aqui discorrer acerca do que é a Ética, bem como as diferenças desta com as diferentes áreas com ela associadas. Deixo isso para um texto no meu Blogue a quem estiver interessado em ler.

Aproxima-se a data de eleições legislativas e autárquicas. Nos últimos tempos muito se tem falado de um hipotético divórcio entre ética e política. Acusam-se os políticos de agirem sem ética. Avançam-se teses que qualquer indivíduo acusado de algo não deveria candidatar-se a cargos públicos. Apontam-se políticos sem escrúpulos, candidatando-se a cargos sem qualquer pudor ou princípio ético. Os partidos políticos procuram demarcar-se dos casos particulares e recorrem ao jargão jurídico: ninguém pode ser culpado até trânsito em julgado.

O termo Ética é muito usado no dia-a-dia. Inclusive, usamo-lo para caracterizar as nossas condutas morais e legais, confundindo-o com a Moral, o Direito e a Deontologia. Também é usual associar o termo Ética com Política e outras formas de vida pública. Esta confusão ganha evidência sempre que uma figura pública, política ou não, comete algum ilícito criminal ou tem uma conduta moralmente repreensível. Daqui surge a pergunta: para que serve a ética na política?

Porque somos animais políticos, no sentido nobre da palavra, cito Fernando Savater: “A ética preocupa-se em conseguir boas pessoas e a política ocupa-se em conseguir boas instituições; e as boas instituições distinguem-se porque conseguem funcionar bem ainda que as pessoas que as encarnam não sejam moralmente boas”. As várias “instituições” – legais, políticas, deontológicas – são alheias à noção de ética, porque esta nunca pode considerar-se “institucionalizada”. É por isso que a ética não pode ser o remédio da política.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O FILÓSOFO E A FILOSOFIA

Começo por colocar uma questão, à boa maneira filosófica: o que torna alguém filósofo? Numa das minha navegações pela Internet alguém, dirigindo-se a mim disse: “outra coisa não seria de esperar de um filósofo”. Mas será que poderei considerar-me filósofo?

A questão não é nova. Platão, filósofo grego do século IV a.C. disse que devíamos dedicar-nos à filosofia a partir dos 30 anos de idade. Bom, deste ponto de vista, estou dentro dos parâmetros, mais que não seja devido ao meu percurso universitário na Filosofia. Mas basta um curso universitário para alguém ser considerado?

Em 1984, na Lição Inaugural do Curso de Filosofia que se iniciava, o Professor Barata-Moura começou a lição com algo deste estilo: se um licenciado em Sociologia é sociólogo, em Economia é economista e assim pior diante, porque razão é que os licenciados em Filosofia não são filósofos? A pergunta caiu que nem uma bomba nos cerca de 100 aspirantes a filósofos que assistiam.

Como sabemos através da História, a relação do Filósofo com a Polis nunca foi pacífica. Veja-se o exemplo da Grécia Clássica onde a Filosofia nasceu. Actualmente, em Portugal, alguns começam a dar timidamente os primeiros passos na afirmação de ser Filósofos. É o caso de José Gil e Desidério Murcho.

As razões para que alguém não se afirme como filósofo estarão no próprio objecto da Filosofia enquanto saber, mesmo a sistemática. Ora, quando se trata de definir Filosofia, excepto pela etimologia, não há acordo. Por isso, deixo aqui uma definição de Filosofia proposta pelo Filósofo José Barata-Moura, com a qual não posso deixar de me identificar.

“A filosofia é isto mesmo. Esta procura incessante de inteligibilidade, de compreensão, para aquilo que, no fundo, são os problemas variados do nosso viver concreto. Não apenas pela curiosidade de investigar, não apenas pela vaidade ou satisfação de saber, mas, sobretudo, pela necessidade estrutural de agir e transformar.

Atitude teórica, a filosofia dá-se, no entanto, sempre dentro de um conjunto prático fundamental – o da realidade objectiva –, onde cada pensador é inelutavelmente chamado a tomar posição, a ter posição. Situação ingrata ou difícil, lamentarão, porventura, alguns. Situação humana, por excelência, recordarão outros. No conjunto complexo de relações sociais em que o nosso viver consiste não há lugar para a neutralidade que muitos reclamam só para poderem mascarar, durante mais alguns instantes, a sua hipocrisia, ou a sua incapacidade de assunção das opções reais que praticam.

Trata-se, sem dúvida, de um caminho árduo, este o da filosofia. Porém, bem vistas as coisas, não é mais árduo do que a tarefa do viver que diante de cada um de nós se abre quotidianamente exigindo resposta e responsabilidade” [Totalidade e Contradição. Acerca da Dialéctica (1977), Lisboa, Livros Horizonte, p. 194].

Feita a citação, a pergunta persiste. E, por isso, talvez seja avisado ter presente a citação de H. Glokner colocada em epígrafe pelo Professor Carmo Ferreira na sua tese de Doutoramento Hegel em Jena. A razão da liberdade ou a Justificação da Filosofia, Lisboa, 1981: “Der Philosoph ist kein Prister, kein Dichter, kein Prophet. Er ist vielleicht Professor”. Assim sou eu: professor de filosofia.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O PERCURSO DO(S) MESTRE(S)

Estou nos últimos dias do mês de Agosto, em fim de férias. Vagueio pela casa com a cabeça cheia de ideias e o corpo de ociosidade. A Internet e a TV por cabo lá de casa avariaram. De repente, sem saber porquê, dou comigo a remexer nos livros da minha pequena biblioteca pessoal. Por um daqueles meros acasos (?) retiro um dos livros da estante. Trata-se da Totalidade e Contradição. Acerca da Dialéctica do Professor José Barata-Moura, editado pelos Livros Horizonte.

Fui aluno do Professor Barata-Moura no primeiro ano da Licenciatura em Filosofia, decorria o ano de 1984/85 na disciplina “Filosofia do Conhecimento”. Voltei a tê-lo como Professor num Curso de Especialização em Filosofia, em 1993, com o Tema “Dialéctica e Materialismo: Marx no texto e no contexto”. E uma outra vez, num dos Seminário do Mestrado, no tema “Marx e a ‘questão judaica’” em 1997/98.

Por esta época, andava a preparar a minha tese de Mestrado e à procura de orientador. O Professor Barata-Moura foi eleito Reitor da Universidade de Lisboa, e fiquei com o Professor Eduardo Chitas como Orientador da minha tese de Mestrado. No dia 28 de Junho de 2000 defendi a Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para obtenção do grau de Mestre em Filosofia com a tese Jean-Jacques Rousseau. Soberania e Liberdade ou acerca da liberdade individual em comunidade.

No júri, para além do meu orientador, Professor Eduardo Chitas, estava também o Professor Viriato Soromenho-Marques e o Professor José Esteves Pereira, este último da Universidade Nova de Lisboa e na qualidade de Presidente do Júri. Desse dia guardo algumas recordações vagas. Os nervos que tentava disfarçar escondendo o copo pelo qual bebia água, a troca não intencional do meu nome por parte do meu Orientador, uma pergunta de Kant feita pelo Professor Soromenho-Marques, os amigos e familiares a assistir, a secretária da Universidade no canto oposto a secretariar a acta.

Finalmente terminou a inquirição do Júri. Como é habitual nesta Universidade, saí juntamente com todos os convidados. Na sala de Mestrados ficou o Júri reunido. A espera teve fim quando a porta de abriu e o Professor Soromenho-Marques, que também foi meu Professor de Licenciatura e Mestrado deu a notícia: tinha obtido a classificação de Muito Bom por unanimidade. Seguiram-se os parabéns de amigos e familiares bem como do Júri, ao qual pedi uma dedicatória que escreveram num dos exemplares da minha tese, que guardo em casa. E assim, de breves momentos, aparentemente desconexos, se faz o percurso de um Mestre.

No mesmo dia em que escrevo esta crónica, tinha estado a ler os programas dos partidos políticos, em particular no respeitante à área da Educação, com vista às próximas eleições legislativas, das quais sairá o novo Governo. Isto vem a propósito do Professor Barata-Moura, assumido militante do PCP e de ter lido, deste mesmo partido, que uma das propostas era terminar o Processo de Bolonha para o Ensino Superior, segundo o qual os Mestrados passam a estar integrados, deixando de haver uma Licenciatura separada.

E dou por mim a pensar no meu percurso de Mestrado que, por si só, demorou 4 anos, sendo 2 anos só para a parte curricular. Já sem falar dos 4 anos de Licenciatura aos quais se juntaram mais 2 para o Ramo Educacional. Como diria um antigo e bem conhecido Primeiro-ministro, é só fazer as contas. Como estão diferentes os percursos dos Mestres. E saber eu que, no final da década de 80, andei a manifestar-me pelas ruas de Lisboa contra a situação desigual entre as Escolas Superiores de Educação (ESE) e as assim designadas Licenciaturas científicas de 4 anos. Agora, relativamente ao Processo de Bolonha, estão muitos estranhamente calados. Sinal dos tempos? Como diria o Poeta, “mudam-se os tempos muda-se a vontade”.

PORQUÊ A OSTEOPATIA?

Esta é uma pergunta que muitos farão. A Osteopatia é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), facto que lhe dá garantias. Contudo, sendo uma medicina complementar relativamente recente e, por isso, pouco conhecida e divulgada, tal facto pode levantar dúvidas acerca da sua aplicação e eficácia. Neste sentido, apresento sete razões pelas quais recomendo a sua prática.

1. Porque é um sistema de medicina complementar extremamente eficaz, que incide no restabelecimento da função e mobilidade do sistema musculoesquelético.

2. Porque o tratamento se baseia na manipulação, massagem e estimulação neuromuscular, sendo uma terapia essencialmente manual.

3. Porque contribui para a redução da dor nas fases agudas da artrite, ajudando a manter a mobilidade, independência e bem-estar.

4. Porque ajuda a melhorar a saúde em geral, sendo habitual sentir efeitos secundários positivos.

5. Porque o tratamento osteopático estimula os mecanismos auto-reguladores do próprio corpo e permite resultados benéficos no funcionamento dos órgãos internos.

6. Porque combina o tratamento físico com conselhos práticos, que poderão implicar uma alteração na alimentação e no estilo de vida, exercício, gestão do Stress, etc.

7. Porque é uma terapia holística, que devolve o equilíbrio postural e trata o corpo como um todo.
RECOMENDO A OSTEOPATIA: Pelos bons resultados obtidos nas dores musculares e articulares.


JOSÉ MOREIRA TAVARES

OSTEOPATA (DO)

sábado, 29 de agosto de 2009

COMO MANTER ARTICULAÇÕES SAUDÁVEIS

AVISO IMPORTANTE
Os conselhos apresentados não pretendem ser um substituto do aconselhamento técnico individual, mas antes um complemento, destinando-se a todos aqueles que desejam aprender mais acerca da sua situação. Antes de iniciar qualquer tipo de tratamento, consulte sempre o seu médico ou técnico de saúde.

Os ossos, as articulações e os músculos constituem, no seu conjunto, o sistema musculoesquelético, também denominado sistema locomotor, responsável pela locomoção. Trata-se de um sistema complexo, que pode ser afectado por vários tipos de problemas, entre os quais os degenerativos ligados ao avanço da idade. Neste sentido, apresento um conjunto de regras com o objectivo de manter as articulações saudáveis.

1. A dor é um sinal de aviso: não deve ignorá-la nem adiar tratamento.

2. Deve fazer alterações pequenas e frequentes na maneira como se senta ou está levantado, sempre que estiver sentado ou levantado.

3. Sente-se em cadeiras rijas, mas almofadadas, com costas confortáveis.

4. Ajuste bem o banco do seu carro.

5. Não tente alcançar objectos esticando-se.

6. Não trabalhe muito tempo na mesma posição: deve fazer pausas regularmente.

7. Nunca dobrar quando se pode ajoelhar ou agachar. Não tossir ou espirrar quando se está dobrado.

8. No acto de levantar objectos pesados lembre-se de dobrar os joelhos, e não se vire.

9. Distribua uniformemente objectos pesados, quando os transportar.

10. Nunca fique muito tempo sentado, em pé ou dobrado.

11. Use almofadas e colchões ortopédicos.

12. Não faça exercício físico sem haver um aquecimento prévio.

13. Em caso de dores nas costas, não fique deitado muito tempo – esta posição atrasa a sua recuperação.

14. Se possível, evite fazer o trabalho mais pesado ou mais extenso, durante as primeiras duas horas do dia.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Nota. O texto apresentado é parte integrante da minha Tese de Mestrado: Jean-Jacques Rousseau. Soberania e Liberdade ou acerca da liberdade individual em comunidade. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2000.

Soberania e liberdade são dois conceitos fundamentais no pensamento de Rousseau, mas sugerem um mais vasto enquadramento. O horizonte filosófico em torno do qual se polariza a argumentação é o pensamento político de Rousseau no quadro das relações entre soberania e liberdade, tendo como pressuposto a suprema direcção da vontade geral. Ora, sendo a noção de vontade geral um vector temático essencial no pensamento político de Rousseau, não podemos deixar de notar que tal deriva de um outro vector temático igualmente importante: o da liberdade individual em comunidade. Esta insistência na liberdade como base da vida política, leva-o a criticar as “teorias do direito natural” e a afirmar que “todo o governo legítimo é republicano”.

Rousseau propõe-se fundamentar a condição do homem que o levará para a sociedade civil, mas sempre com uma única finalidade: conquistar a sua liberdade, a maior de entre as tarefas do homem. Na sequência do problema fundamental ao qual o contrato social dá solução, podemos dizer que a passagem do estado de natureza para o estado civil se faz pela entrega de cada um à vontade geral, dando-se assim a perfeita integração do indivíduo no todo. Deste modo, ainda que o indivíduo prossiga com a responsabilidade de alcançar a liberdade na sua vida pessoal, já não o pode levar a cabo isolado dos demais.

O problema específico da ordem política implica, portanto, o estabelecimento de condições que permitam a todos os membros da sociedade participar em situação de igualdade numa associação civil baseada no princípio da liberdade. Ora, segundo Rousseau, as relações empíricas entre homens são sempre arbitrárias, conduzindo quase sempre a uma situação de desigualdade em favor do mais rico e do mais forte. Por isso, o que se pretende é pôr fim a esta dependência, submetendo os homens à lei, expressão da vontade geral. A natureza absoluta, indivisível e inalienável da soberania permite justamente alcançar esta dependência interpessoal, uma dependência das coisas, que evita a subjugação das pessoas, pois situa a soberania em todos os membros da comunidade: é a soberania do povo.

As condições são iguais para todos, porque todos as aceitam livremente. Além disso, obedecendo a esta autoridade comum, os cidadãos obedecem a si próprios porque não existe outra legitimidade. Assim sendo, porque a soberania não se pode conceber sem uma genuína igualdade nos direitos e obrigações, torna-se a garantia da liberdade, a qual não se concebe sem perfectibilidade, razão pela qual afirmamos que há no pensamento político de Rousseau uma dialéctica da perfectibilidade, que dá ao movimento dos contrários uma nova projecção, a qual está na base do processo entre uma liberdade individual, como ponto de partida, e uma vontade geral, ponto de chegada. Em nosso entender, o pensamento político de Rousseau representa a possibilidade de se realizar a aventura da unidade dentro da diversidade, mostrando uma coerência entre as instituições e a sociedade, entre o homem e o cidadão.

Fazendo uso da ideia de direitos em teoria política, Rousseau insiste na igualdade absoluta do direito entre todos os indivíduos, o que equivale a dizer que recusa quaisquer “sociedades particulares” que diminuam tal igualdade. Rousseau propõe uma liberdade igualitária e consequente soberania popular. Esta liberdade exprime, por oposição a uma liberdade exclusivamente “civil”, proposta pelos pensadores liberais, uma instância universal baseada no reconhecimento social. O igualitarismo antinivelador do pai da democracia moderna não é, portanto, simples igualdade “jurídica”, nem o seu pensamento simples apêndice à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão saída da Revolução francesa. Ele é, para utilizar a expressão de Galvano Della Volpe, uma “síntese proporcional de igualdades”.

Tal implica que a solução do problema de uma efectiva igualdade universal passa por exigir a aplicação, também ela universal, de um critério baseado nos méritos pessoais, fundado no reconhecimento social dessas mesmas desigualdades. Daqui resultam um reconhecimento social mas também uma concepção democrática das relações políticas. Portanto, entendemos que o problema da liberdade não deve ser separado da igualdade, aspecto que nos remete para a liberdade igualitária. Esta liberdade, sendo política, deverá ser entendida numa perspectiva social e democrática, resultando daqui o princípio da soberania do povo, na qual, segundo Rousseau, os súbditos e os soberanos são os mesmos homens considerados sob diferentes relações. Resulta também deste enquadramento que a igualdade torna-se a base do sistema e a verdadeira garantia dos direitos de cada um: a igualdade gera a unidade e esta a liberdade; só há liberdade na unidade, a liberdade individual em comunidade.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

SOLIPSISMO

O termo deriva, etimologicamente, do Latim solus, que significa só, e ipse, que significa o próprio; podemos traduzi-lo por só ele próprio. A conceptualização do termo implica “ipseidade”, o que nos conduz a uma perspectiva de egoísmo ou ensimesmamento, no sentido de vida ou costume de quem é solitário ou vive retiradamente, à maneira de quem queira cortar com a realidade circundante e viver em função da sua própria consciência. O termo designa também uma doutrina ou sistema filosófico que admite ser toda a existência experiência e que somos naturalmente o único objecto dessa experiência, isto é, reduz toda a realidade ao sujeito pensante.

O solipsismo reveste muitos matizes ao longo da história da filosofia, mas podemos resumi-los a três tendência fundamentais: solipsismo gnosiológico, segundo o qual não há justificação para afirmar o objecto fora da consciência, solipsismo metafísico, tendência a afirmar como ser único o do sujeito e, finalmente, solipsismo moral, que situa no sujeito a fonte de todas as normas morais. Seja qual for a tendência, as consequências são, genericamente, as seguintes: o sujeito fecha-se sobre si próprio e ignora, teoricamente, tudo o mais, embora a prática desminta esta posição teórica na relação com a realidade, seja esta a natural ou social.

Ficou historicamente conhecido o solipsismo cartesiano, quando o filósofo francês René Descartes afirma o primado da substância pensante (res cogitans) traduzida na célebre máxima “penso logo existo” (cogito ergo sum). Partindo do substancialismo cartesiano pode afirmar-se que Deus (res divina) é, do ponto de vista ontológico, a substância mais importante, mas, gnosiologicamente, a res cogitans é que tem a primazia. Contudo, não basta garantir o fundamento do Cogito, é preciso garantir o fundamento da própria existência. O argumento ontológico, garantindo a existência de Deus, garante a nossa existência e a própria veracidade da Sua existência, dando assim resposta ao solipsismo.

Podemos afirmar que na base do solipsismo está uma posição extrema, seja ela empírica ou idealista. As tentativas de mediação para estas posições extremas também são conhecidas. Ora, as posições extremas conduzem a visões dicotómicas que, a limite, podem conduzir a dogmatismos ou cepticismos, escudados em Metafísicas dualistas, que não têm em conta a vontade livre, traduzida numa visão holística e dialéctica da realidade, a qual é não só multifacetada como também está em constante devir, como bem o referiu Heraclito de Éfeso.

sábado, 15 de agosto de 2009

ÉTICA

O termo Ética é muito usado no dia-a-dia. Inclusive, usamo-lo para caracterizar as nossas condutas morais e legais, confundindo-o com a Moral, o Direito e a Deontologia. Também é usual associar o termo Ética com Política e a outras formas de vida pública. Esta confusão ganha evidência sempre que uma figura pública, política ou não, comete algum ilícito criminal ou tem uma conduta moralmente repreensível. Daqui surge a pergunta: o que significa ética? Com este texto pretende-se clarificar a distinção entre Ética e outras áreas com ela associadas.

Ética deriva etimologicamente do grego êthos, que significa” carácter”, “modo de vida habitual”. Para os gregos, a ética era a ciência dos costumes. Contudo, a passagem do grego para o latim trouxe mudanças. Cícero, autor romano, traduziu o adjectivo grego “ético” por “moral” (moralis), palavra construída a partir do substantivo mos, moris, que designa a maneira de nos comportarmos não segundo a lei (pois isso seria objecto da política), mas segundo os costumes. Assim, na filosofia greco-romana, Ética e Moral são sinónimos e designam a ciência dos costumes ou ciência do Bem.

Esta distinção começa a ganhar novos contornos com Kant. Na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes, este filósofo apresenta um verdadeiro projecto para uma ética a constituir-se. Depois de Kant começa a distinguir-se entre ética e moral. O termo “moral” passa a denotar melhor os comportamentos, as acções práticas; o termos “ética” denota antes os princípios de toda a conduta. A filosofia kantiana foi importante na distinção entre moralidade e legalidade e, inclusive, deontologia, com a distinção entre acções “por dever” e “conformes ao dever”.

Chegados aqui, torna-se evidente que há diferenças. Ainda que a moral e a ética sejam termos afins, podemos contudo distingui-los. Como refere Paul Ricouer: «Nada há, realmente, na etimologia ou na história do uso dos termos que imponha a distinção entre ética e moral. Um dos termos vem do grego, o outro do latim e ambos reenviam à ideia de costumes (ethos, mores); no entanto, podemos encontrar um traço distintivo entre eles, consoante acentuemos o que é “considerado bom” ou o que “se impõe como obrigatório”.»

A ética ocupa-se dos princípios e categorias comuns a toda a moralidade: consciência moral, liberdade, responsabilidade e os conceitos de bem, dever e direito. Importa distinguir os termos. Podemos apresentar duas formas para tal. A primeira consiste em conferir à moral dimensão mais local e à ética uma dimensão mais universal. Uma segunda forma de distinguir consiste em ligar a ética à persecução do viver bem, da vida boa ou da felicidade e associar a moral às noções de obrigação e dever morais pelas quais se devem pautar as condutas dos indivíduos.

Somos seres essencialmente políticos. Contudo, as várias “instituições” – legais, políticas, deontológicas – são alheias à noção de ética, porque esta nunca pode considerar-se “institucionalizada”. Como refere Fernando Savater: “A ética rege-se por ideais (estilizações supremas dos valores de vida e liberdade que representam aspirações do espírito mas nunca descrevem estados de coisas) e não por utopias, que inevitavelmente implicam o projecto de estatuir de uma vez por todas procedimentos perfeitos”.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

TRABALHO

A palavra trabalho deriva etimologicamente do latim popular tripalus, que significa “três paus” e designava um instrumento utilizado para torturar. Da evolução semântica derivou a palavra tripaliare, literalmente “torturar”. Surge assim o termo trabalho para significar algo penoso, fatigante, uma vez que era uma condição pouco digna quando comparada à dos homens livres, dedicados à contemplação e ao ócio.

Como toda e qualquer realidade humana, também o trabalho passou por diferentes fases históricas. A sua evolução histórica começa com a divisão natural, na qual as tarefas se baseiam no sexo e na idade. Seguiu-se a primeira divisão social, através da separação em tarefas especializadas entre agricultores e pastores. Mais tarde, numa segunda divisão social, surgem os artesãos, ligados aos ofícios especializados no fabrico de instrumentos.

Desde o Esclavagismo até ao Capitalismo, passado pelo Servilismo e pelo Corporativismo, a visão negativista presente na etimologia latina foi dando lugar a uma nova concepção de trabalho, encarado como libertação, progresso e auto-realização. Alguns autores defendem que dignifica o ser humano. No final do século XIX e século XX assistimos a grandes transformações do trabalho, não só ao nível da técnica de produção, mas também como fenómeno e pratica social.

Em termos genéricos, trabalho significa toda e qualquer actividade de ocupação na qual despendemos grande parte da nossa vida. O ponto de vista sociológico, pelo contrário, define-o com realização de tarefas que envolvem dispêndio de esforço, seja este mental ou físico, cuja finalidade é a produção de bens e serviços para satisfazer necessidades humanas. Remunerado ou não, o trabalho desempenha um papel na condição humana; mesmo a ociosidade, apesar de apreciada, só se afirma dialecticamente a partir dele.

Defendo que o trabalho liberta. Não concordo com a máxima nazi de má memória Arbeit macht frei. Também não concordo com a libertação proposta pela dialéctica hegeliana, segundo a qual é pelo trabalho que o servo, antítese do senhor, consegue essa mesma libertação através da “consciência de si” (Selbstbewußtsein), dando origem ao “homem livre” (síntese). A minha concepção de trabalho está próxima da marxiana, não só pela sua visão dialéctica da história e pela praxis social, mas principalmente pela defesa da condição humana não alienada, o homem total.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

EROS E THANATOS

Eros e Thanatos significam, entre os gregos, o Amor e a Morte personificados. Podemos identificar nestas figuras da mitologia grega dois princípios vitais: Vida e Morte. Freud utilizou-as para identificar duas categorias de pulsões humanas: instinto de vida (eros) e instinto de morte (thanatos). Estas duas pulsões geram entre si um conflito que dinamiza o psiquismo humano. Neste sentido, a estrutura freudiana do psiquismo humano é atravessada por um conflito que dinamiza o aparelho psíquico. Este conflito tem origem nos obstáculos que o indivíduo encontra na realização das pulsões e reflecte a luta entre várias instâncias no psiquismo humano.

De acordo com Freud, o aparelho psíquico está subdividido em três instâncias que interactuam umas sobre as outras, cada uma com um papel específico: id, ego e superego. O id é a zona inconsciente, primitiva, instintiva, a partir da qual se formam as outras instâncias psíquicas; rege-se pelo princípio do prazer, que tem como objectivo a realização, a satisfação imediata dos desejos e pulsões. O id é o reservatório da libido, energia das pulsões sexuais. O superego é a zona do psiquismo que corresponde à interiorização das normas, dos valores sociais e morais; resulta do processo de socialização e interiorização de modelos. É a componente ético-moral do psiquismo e pressiona o ego para controlar o id; forma-se no estádio fálico.

O ego é fundamentalmente consciente, e forma-se a partir do id durante o primeiro ano de vida; rege-se pelo princípio da realidade, orientando-se por princípios lógicos e decidindo quais os desejos e impulsos do id que podem ser realizados. O ego tem por função tomar decisões quanto à resolução do conflito travado entre as outras instâncias psíquicas, o que nos remete para o aspecto fundamental: o conflito que dinamiza o aparelho psíquico. Centro da libido ou energia pulsional instintiva, o id é incapaz de suportar tensões, só obedecendo ao princípio do prazer, o que o impulsiona a agir e o faz reduzir de imediato as tensões penosas. O superego, instância moral ou ideal, conflitua com os impulsos e pulsões do id.

Situado entre as pulsões inconscientes e as exigências do mundo real, o ego gere as pressões que recebe do id e do superego, sendo o mediador entre ambos; operando de acordo com o princípio da realidade tenta moderar o id e retardar a satisfação imediata que o princípio do prazer requer. O ego utiliza mecanismos de defesa, estratégias inconscientes para reduzir a tensão resultante deste conflito. Podemos definir conflito como a oposição de duas forças com intensidade semelhante que são, no fundo, os princípios do prazer e da realidade: o querer e o dever. Cabe ao ego ser a síntese neste conflito triádico, síntese que, no fundo, é a formação dinâmica da nossa própria personalidade, superando os conflitos internos. Como diria o oráculo de Delfos: conhece-te a ti próprio.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

PERSONALIDADE

Mais importante do que definir o conceito de personalidade, será saber até que ponto somos as nossas próprias circunstâncias ou mantemos a nossa própria personalidade constante através de diversos contextos. Daqui a questão: até que ponto somos inerentemente consistentes face às circunstâncias? Será que o homem é ele e as suas circunstâncias?

A personalidade contém em si duas tendências que, à primeira vista, poderão parecer opostas: a de unicidade, no sentido da integração, e a de individualidade, no sentido da diferenciação. A personalidade é um conceito que apela ao indivíduo, à sua unicidade, no que há de mais nuclear e específico em si próprio, mas, também, à sua diferenciação, no que há de distintivo dos outros.

Permite que nos reconheçamos e sejamos reconhecidos; ela representa uma fidelidade, uma continuidade de forma de estar e de ser. A personalidade conduz-nos à identidade, desenvolve-se ao longo da vida e é o resultado da inscrição na mente da nossa história biológica e relacional.

A identidade é o produto – sempre em aberto – da auto-organização que cada indivíduo faz da sua história bio-relacional e emerge do conjunto de processos dinâmicos – estruturais e funcionais – que asseguram a unidade e a continuidade. É aquilo por que cada um se sente diferente, mas, simultaneamente, único, aceite e reconhecido como tal pelos outros, o que nos remete para a questão da unidade e diversidade dos seres humanos.

Neste particular, pode dizer-se que cada ser humano é único por construir a sua identidade a partir de uma história pessoal e, por isso, a diversidade é a marca distintiva dos humanos. Porém, esta diversidade não invalida a existência de uma estrutura comum, isto é, para lá da diversidade há uma unidade comum a toda a espécie.

A história pessoal de cada ser humano desenrola-se no diálogo. Daí termos de assumir uma identidade multidimensional que engloba as várias identidades Isto remete-nos para um tema muito interessante que é a relação entre legado cultural e herança genética e sua importância na riqueza e diversidade humana.

Quando falamos de diversidade humana devemos ter em conta duas heranças: a genética e a cultural. É por isso que o ser humano é considerado uma unidade biocultural. Assim, a diversidade humana diz respeito ao facto de não existirem duas pessoa iguais, pois todas elas divergem sob o ponto de vista fisiológico e social.

Dentro de cada cultura, cada ser humano constrói-se a partir das potencialidades genéticas resultantes da combinação de múltiplos pares de genes provenientes dos seus progenitores. Em suma, somos uma unidade que se diferencia nos contextos.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ANIMAL INACABADO

Perante um título destes apetece fazer como o senhor de La Palisse e dizer que o animal inacabado é aquele que não está acabado. Mas a pergunta impõe-se: qual é, entre os animais, aquele que está inacabado e porquê? O assunto é sério e mereceu estudos aprofundados a nível científico e filosófico. Fernando Savater, filósofo contemporâneo, escreveu: “O ser humano conta com uma programação básica – biológica – mas deve autoprogramar-se como humano. […] Mesmo comparado com os seus parentes zoológicos mais próximos, oferece uma sensação de abertura de inacabamento: em suma, de extrema disponibilidade.”

O texto de Savater explicita a seguinte ideia: o ser humano tem de aprender o que a hereditariedade propicia a outras espécies. Inacabado, biologicamente desamparado, prematuro, o ser humano está aberto a múltiplas potencialidades. É por isso que a prematuridade do ser humano é uma vantagem. Como refere o autor: “ […] oferece uma sensação de abertura de inacabamento: em suma, de extrema disponibilidade.”. Isto remete-nos para dois temas: a) o ser humano é biologicamente inacabado; b) as vantagens da prematuridade biológica do ser humano.

Quanto ao primeiro tema, pode dizer-se que o inacabamento biológico está relacionado com a carência de respostas instintivas à maneira de um programa determinado que permita reagir na natureza, como as restantes espécie animais. É por isso que o ser humano é um animal social; ele necessita do grupo social para aprender, não só na infância, mais longa que a de outras espécies, mas também ao longo da vida. Este inacabamento tem vantagens, o que nos conduz ao segundo tema.

A imaturidade ou prematuridade biológica do ser humano subtrai-o à fixidez, instigando-o a desenvolver uma multiplicidade de condutas. A ausência de respostas definitivas e acabadas como as restantes espécies animais, leva o ser humano a desenvolver renovadas formas de actuação, traduzido numa plasticidade adaptativa. Como refere Savater: “O ser humano conta com uma programação básica – biológica – mas deve autoprogramar-se como humano.”

No plano físico, o ser humano apresenta um inacabamento biológico que se designa por neotonia. Este inacabamento biológico e a sua prematuridade são condição necessária para o processo de adaptação e desenvolvimento. Isto está bem presente no texto pois o desenvolvimento mais lento dá maior flexibilidade ou plasticidade, dado que nem todas as conexões estão “instaladas” no início da vida. De facto, a lentificação no ritmo de desenvolvimento, em particular na comparação com outras espécies, possibilitou a complexificação e individuação. A lentificação possibilita a complexidade e a individuação dos modos humanos de conduta.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ANCORAGEM

Caso se pretenda saber o significado desta ou de outra palavra é comum e, dir-se-ia, de bom senso, consultar um Dicionário para procurar a respectiva definição, de preferência fidedigna, para que não restem quaisquer dúvidas a esse respeito. De acordo com José Pedro Machado, Director da “Sociedade da Língua Portuguesa” e membro das comissões do Vocabulário e do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa: Ancoragem, s. f. (de ancorar) Acto de ancorar. Taxa que paga um navio para poder fundear num porto. Para o comum bom senso nada mais óbvio e problema resolvido. Mas os problemas só agora começaram.

Se analisarmos deste mesmo especialista e no mesmo Dicionário, mas agora no Tomo de Actualização que acompanha o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, encontramos uma nova definição de ancoragem, já não como termo de actividades náuticas, mas sim de ciências médicas, a saber: cirurgia: fixação cirúrgica de uma víscera deslocada; odontologia: ponto de fixação de uma coroa ou ponte artificial. Porquê esta diversidade de significados? Como refere o supracitado especialista, aliás, no mais puro espírito científico e anti dogmático: “ [o Dicionário] ficará algo mais actualizado, mas, saliente-se, não ficará completo. Mas há algum dicionário completo?”.

Repare-se que a definição que procuramos no dicionário nos remete para uma perspectiva lexicográfica com informações de natureza ortográfica. Contudo, a palavra em causa pode ser também analisada pela semiótica, esta considerada uma metalinguagem com as suas três dimensões: sintaxe, semântica e pragmática. A semiótica, que é a ciência dos signos, tem actualmente grande importância, não só para o aparelho lógico e conceptual da ciência, mas também para os sistemas de comunicação no seio das comunidades humanas, e teorias relativas aos modos de significar.

O principal objectivo de alguns lógicos e matemáticos contemporâneos, por exemplo Bertrand Russell, foi o de construírem uma linguagem ideal que eliminasse os equívocos, as limitações e contradições da linguagem corrente. Claro que não se pretende fazer aqui um estudo semiótico, uma linguagem de signos unívocos e não equívocos, mas tão só dar uma pálida imagem da complexidade do problema da linguagem em geral, e dos problemas inerentes à linguagem científica em particular, tendo presente a dimensão social do conhecimento própria da linguagem comum. Voltemos, pois, à ancoragem, agora numa outra perspectiva: a representação social.

As representações sociais têm na base dois processos: a objectivação e a ancoragem. O primeiro corresponde à forma como se organizam os elementos da representação e o percurso que efectuam até chegarem a exprimir uma realidade pensada que é tida como natural. Quanto à ancoragem, será o processo cognitivo relacionado com a objectivação, cuja ocorrência tem dois momentos: 1) processo que antecede a objectivação, tornando familiar o que ainda não é; 2) processo subsequente à objectivação tendo por função a organização social. É assim que o H5N1 (objectivação) ganha uma dimensão social passando a “Gripe das Aves” (ancoragem). Faça o seu teste com o H1N1.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A MINHA RELAÇÃO COM O RIO TEJO

Começo esta crónica das minhas vivências com uma citação de Heraclito, frag. 12 e 91: “Para os que entram nos mesmos rios, outras e outras são as águas que correm por eles…Dispersam-se e…reúnem-se…vêm junto e junto fluiem…aproximam-se e afastam-se.”

Completei meio século de existência e, feita uma análise retrospectiva, dei por mim a pensar que, ao longo de todo este tempo, sempre mantive uma relação de proximidade com o rio Tejo.

Nasci em Azambuja que, há cinquenta anos atrás, mantinha uma relação diferente com o Tejo, não só através do tráfego marítimo das Fragatas, como também de uma mais intensa actividade piscatória neste rio.

Eu próprio, ainda com meses de vida, tive a experiência de navegar no Tejo. Os meus pais eram pescadores, cuja faina era no Tejo. Por isso, pouco após o meu nascimento, já andava com eles nas lides, deitado numa caixa à proa da bateira. Eram tempos difíceis.

Mais próximo de Lisboa, mantiveram a mesma actividade piscatória. Foi por esta época, tinha talvez 3 ou 4 anos, terei caído ao Tejo e fui salvo pelo meu pai. Ainda hoje me recordo do acontecimento, vendo as bolhas de água a passarem junto aos olhos.

Durante toda a minha infância e adolescência mantive esta relação com o Tejo. As minhas férias eram passadas em Valada, Escaropim e Azambuja, sempre com o rio Tejo e a Lezíria em fundo.

Já adolescente, fui estudar para a Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira mantendo a relação com o Tejo. Tendo familiares nos Avieiros, essa relação era ainda maior, com viagens frequentes nas bateiras. Aliás, foi no Tejo que aprendi a nadar.

Alistei-me como voluntário na Armada, passando vários anos em contacto com o Tejo. Até como desportista fiz várias travessias no Tejo, tais como a travessia em Honra de Batista Pereira, nadando entre Vila Franca de Xira e Alhandra.

Actualmente, vejo o Tejo da minha casa e no percurso que faço para o trabalho acompanho-o até ao seu estuário. Um aspecto interessante: comprei um quadro, que está exposto no meu consultório, cujo título é Maior do que um rio.

Termino parafraseando G. S. Kirk e J. E. Raven no comentário a Heraclito, autor que muito aprecio: a imagem do rio esclarece o género de unidade que depende da conservação da medida e do equilíbrio na mudança. O rio fornece uma imagem do equilíbrio dos entes que constituem o mundo.

domingo, 26 de julho de 2009

FINITUDE E CONSCIÊNCIA: UMA VISÃO DA CONDIÇÃO HUMANA

Considero que uma das características distintivas da condição humana é a sua finitude. Melhor, a consciência da sua finitude, pois sem essa consciência dificilmente poderíamos, sequer, falar em condição humana.

Desde que adquiriu consciência, não só da sua condição, mas sobretudo da sua finitude, o ser humano sempre procurou superar essa “falta” apelando para elementos sobre-humanos, diria mesmo sobrenaturais.

Os mitos terão sido, numa perspectiva sistemática, a primeira tentativa de responder às perguntas e anseios deste ser que, deste modo, procurava respostas apelando a um tempo primordial (in illo tempore), justamente devido à sua finitude.

Com o advento da Filosofia, nomeadamente a grega, o mito foi perdendo a sua importância, para dar lugar a teorias mais elaboradas, que remetem, por um lado para a Metafísica e, por outro lado, para a Teologia, mas cujo desfecho é um dualismo.

Perante a consciência da sua finitude, o ser humano recorre a esses dualismos como forma de colmatar a sua finitude. Um dos mais conhecidos é o dualismo antropológico, que separa o corpo da alma e procura a sua unidade num Absoluto, seja este uma realidade Metafísica ou entidade divina.

O que pretendo destacar é que o ser humano não precisa recorrer a dualismos, sejam eles cosmológicos, teológicos ou outros, pois a resposta que procura está nele próprio. Aliás, ele é o grande enigma para o qual se procura a resposta. As questões kantianas “Que posso saber?”, “Que devo fazer?” e “Que me é permitido esperar?” só têm sentido perante a derradeira e antropológica questão “Que é o homem?”

O Todo, que é o ser humano, não é compatível com abordagens dualistas. Contudo, devido à sua finitude, só dialecticamente alcançará esse Todo. Daí a necessidade de uma Aufhebung hegeliana, que progride a partir da dicotomia biológico/cultural, superada pela consciência de si.

terça-feira, 21 de julho de 2009

HERCULANO DE CARVALHO - ESCOLA DE EXCELÊNCIA

A Escola Secundária Professor Herculano de Carvalho está situada na zona Oriental de Lisboa, mais concretamente na Freguesia de Santa Maria dos Olivais, bem perto do Parque das Nações, onde se realizou a Expo 98. Está, portanto, bem localizada do ponto de vista geográfico.

Inaugurada em 1984, comemorou agora 25 anos. Inicialmente foi-lhe atribuído o nome Escola Secundária N.º 2 dos Olivais, o qual foi substituído pelo do actual Patrono. Esta é uma questão central como veremos mais adiante. Este facto, entre outros que julgo pertinentes, levou-me a escrever este texto.

Cheguei a esta Escola em 1989, para realizar o meu Estágio como Professor Estagiário do Grupo 10º B, o Grupo de Filosofia. Por lá continuei no Ano Lectivo seguinte. Em 1982 fui colocado na Escola Secundária de Santo André, no Barreiro, devido à profissionalização. Mas no ano seguinte já estava novamente na Herculano de Carvalho.

Habituei-me a ver a Herculano de Carvalho como uma Escola de Excelência e de Rigor. Aliás, este é um aspecto que se ouve junto da comunidade. É vulgar ouvir que esta Escola é exigente e com bom ensino. E a fama é transversal a toda a população. Mesmo entre docentes, como já vi na blogosfera.

Muita coisa mudou nestes 25 anos. E a Herculano também. A primeira grande transformação ocorreu durante o mandato do Ministro da Educação David Justino. A Herculano de Carvalho, que só tinha Ensino Secundário, passou a ter 3º ciclo de escolaridade, facto que alterou, e muito, o paradigma do "aluno tipo" até então vigente nesta Escola.

No decorrer do presente Ano Lectivo, nova mudança, esta muito mais profunda. A Escola Secundaria Vitorino Nemésio vai ser encerrada e a sua comunidade escolar vai ser transferida para a Herculano de Carvalho, que entretanto vai entrar em obras de remodelação.

E aqui chegados eis a questão. Em reunião de professores de ambas as Escolas, o actual Presidente da Comissão Administrativa Provisória deixou para breve a discussão em torno da mudança do nome do Patrono. Não sei o que acontecerá, mas sei que a Herculano de Carvalho ficará para sempre como Escola de Excelência.